Edmilson de Almeida Pereira – Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 1963. É professor de Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na Universidade Federal de Juiz de Fora.
SIGNOS
Endereço nos cabelos leva a mais do que leio
onde estão dançando em ritmos vermelhos.
Dançam tatuagens alheias a seu desenho.
As siglas dos mistérios fecham sem correntes
um corpo que intenso se move na inércia.
E sobre outro corpo – maestro por urgência –
dança como se antes vencesse o desespero.
Dentro da música o pente a silhueta a hora
em que a última fera sabe o sigilo dos velhos.
Os ritmos que entendo pelo ruído dos dentes
são outros são estes atentos como espelhos.
Aquela que me dança na mais perfeita esfera
luta com seus nervos e as cartas que escreve.
O blues me atravessa uma rajada de espíritos
as ilusões viram seta navegando pelos discos.
O céu se dobra em ruas as flores nos oceanos.
A dança que se espera dura se não dançamos.
FÁBULA
Esquina não é parte da rua, nem cotovelo de faca.
Nem caverna onde um se esconde, se perseguido.
Nem macio para o amor de quem não tem leito.
Nem igreja ou teatro, mesmo que aí tantos representem.
Esquina não é bar nem feira nem seta indicando
desvio. Mais que um lugar é a recitação da passagem.
DUETO
Sem saber o idioma da tarde
não posso fugir ao exílio.
Só o trabalho traz o mundo
ao meu alcance. Delírio é a
ausência de comunicação. Se
assobio tivesse declinações.
Esse me sibila o corpo
e cai. De repente, alguém
afora o levanta e devolve.
Devolve a mim, a si? Pouco
importa. Esse diálogo basta
para reinaugurar a tarde.
NA CASA DE MEU PAI
Um que se arranha tem seu canto. Se quiser ir ao
mundo faz a mala, vai. O pai cede o manto, a seu
tempo garagem e porto. Na casa, um observa.
O pai, que é de todos, se erra um jogo acerta de
outro jeito. Um está na porta, não entra, não sai e
se move mais que a gente carteando naipes. Com
ele o pai entesa. Ele, o um que é nós.